quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Juro do cartão crédito no Brasil é de 238% ao ano, o maior entre 9 países



Apesar da queda dos juros básicos da economia — que estão no seu menor patamar histórico — os brasileiros ainda pagam a maior taxa média no cartão de crédito. Levantamento em nove países — Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Venezuela, México, EUA e Reino Unido, além do Brasil — mostrou que o país cobra 238,30% ao ano. O número é mais de quatro vezes o registrado pelo Peru, o segundo colocado, com taxa de 55%, muito próxima aos 54,24% do Chile.

A Argentina é o quarto país com a maior taxa, de 50%, seguido por México (33,8%), Venezuela (33%) e Colômbia (29,23%). Nos EUA e no Reino Unido, a taxa é muito inferior, de 16,89% e 18,7%, respectivamente. O estudo incluiu dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), da Proteste e dos sites Index Credit Cards e Money Facts, dos EUA e Reino Unido, respectivamente.

— É um absurdo a diferença de taxa de juros. Não tem justificativa, nem mesmo a inadimplência — diz a economista da Proteste Hessia Costella.

Inadimplência e juros: ciclo vicioso

Nem a redução da taxa básica de juros da economia tem tido impacto nos juros médios do cartão de crédito, que se mantêm inalterados em 238,30% anuais desde fevereiro de 2010.

— Existe um ciclo vicioso. A inadimplência é alta porque os juros são elevados. E os juros elevados acabam aumentando a inadimplência. Se os juros fossem menores, a inadimplência cairia — diz o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira.

— A taxa de 238,30% ao ano é elevadíssima, para não dizer absurda ou irreal — afirma, por sua vez, o educador financeiro Mauro Calil.

Segundo o Banco Central (BC), a inadimplência no cartão de crédito chegava a 28,10% em julho (considerando os atrasos de mais de 90 dias), bem acima da média de inadimplência no crédito para pessoa física: 7,9%. Segundo o BC, o volume movimentado no rotativo em julho era de R$ 37 bilhões.

— Dificilmente a pessoa que entrou no rotativo vai sair. As taxas são muito altas — afirma Hessia Costella.

Segundo Oliveira, uma dívida no cartão de crédito leva seis meses e meio para dobrar de valor, a uma taxa média de 10,69% por mês (238,30% por ano).

Os números são mais expressivos quando se olha além da média. Segundo a Anefac, a taxa varia entre 26,82% e 628,76% ao ano, ou 2% a 18% ao mês.

— Pesquisas indicam que o cartão de crédito é o principal meio de pagamento quando se trata de inadimplência — afirma Mauro Calil.

Além do juro alto, o tema também desperta polêmica por causa de algumas características específicas do mercado brasileiro de cartões. Aqui, todos os cartões têm a função de crédito rotativo. Quando o consumidor opta por pagar o valor mínimo da fatura, já faz uso desse financiamento, e inicia seu processo de refinanciamento. Lá fora, o rotativo não é disponível em todas as opções do mercado.

Empresas: rotativo representa só 2%

O parcelamento sem juros — praticamente uma exclusividade brasileira — também pesa sobre os custos do setor, segundo seus representantes. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) diz que 50% do faturamento dos cartões no Brasil vêm do parcelamento sem juros.

Outra diferença é a data em que o juro começa a incidir sobre as compras. No Brasil, isso só ocorre quando a pessoa atrasa o pagamento ou opta por pagar o valor mínimo. Ou seja, quem está com a fatura em dia pode ter até 40 dias de financiamento sem custo.

— Lá fora, não existe operação sem juros. O pagamento do juro ocorre a partir do dia seguinte da compra, enquanto aqui se cobra o juro apenas a partir do dia de vencimento da fatura. Além disso, temos o parcelado sem juros. Tudo isso tem custo — defende o vice-presidente comercial da Mastercard Brasil e Cone Sul, João Pedro Paro.

Segundo a Abecs, no exterior, o saldo do rotativo representa 80% das compras com cartão. No Brasil, 70% do saldo a receber não tem juros e o rotativo representa menos de 2% do volume total do crédito para pessoa física.

Atendente de uma padaria da Vila Olímpia, em São Paulo, Vital Abreu Neto diz, orgulhoso, que nunca se endividou no cartão de crédito e revela o segredo: nunca pagar o valor mínimo.

— Se você paga o mínimo, a dívida dobra — diz ele.

Mastercard e Visa — as principais bandeiras de cartão de crédito no mundo — argumentam que são os emissores dos cartões (instituições financeiras, redes varejistas e outros) que definem as taxas de juros. Isso explica, segundo elas, o fato de que a mesma bandeira ter taxas de juros díspares em diferentes países. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) diz que a Abecs é a entidade indicada para tratar do assunto.

— Saiba como não se endividar:

Evite vários cartões: Evite usar um número muito grande de cartões de crédito. O melhor é se restringir a apenas dois. Segundo o educador financeiro Mauro Calil, a soma dos limites dos cartões não deverá ultrapassar a 50% da renda.

Mantenha a fatura em dia: Pague sempre integralmente a fatura do cartão e no prazo. Desse modo, não apenas você evita acumular dívida, como também poderá ter acesso a crédito sem pagar juros.

Evite o pagamento mínimo: Caso não tenha recursos para honrar integralmente os compromissos financeiros assumidos, não recorra ao pagamento mínimo. Procure logo entrar em contato com o emissor do cartão para negociar a dívida em melhores condições.

Suspenda o consumo: Ao ficar sem recursos, pare imediatamente de consumir com o cartão e de acumular novas dívidas. Espere que a situação se normalize para voltar a usar o cartão de crédito.

Negocie com o emissor: Negocie com o emissor do cartão uma taxa de juros menor para acertar sua dívida. Faça ofertas de juros em nível muitíssimo menor na hora da negociação.

Evite uma bola de neve: Negocie com a operadora do cartão de crédito para evitar que a dívida se acumule. Para quem paga apenas a taxa mínima, com os juros atuais, a cada seis meses e meio a dívida dobra.

Evite o consumo impulsivo: Use o cartão de crédito apenas para compras necessárias. Lembre-se que os gastos se acumulam no fim do mês.

Inadimplência: Se a dívida ficar muito elevada, vale a pena tomar um empréstimo a um custo menor (crédito consignado, por exemplo), para sair da inadimplência.

 Fonte: O Globo

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