Para driblar a situação da seca deste ano, o município de Carpina, a menos de 60 quilômetros do Recife, na Zona da Mata pernambucana, aproveita os jumentos para transportar a água. Na zona rural do município, poucas casas possuem cisternas, e quem não tem, armazena a água em baldes e tonéis.
O agricultor Severino Vieira já está acostumado a caminhar na estrada de chão batido, transportando água para o povoado onde mora. A cena, típica do semiárido de Pernambuco, chegou à Zona da Mata por conta da estiagem. Ele comenta que o inverno de 2012 foi fraco, quase sem chuva. “Choveu, mas choveu pouco. A gente não tem reservatório. Aí perdeu-se as águas, e agora tem que buscar na fonte”, comentou.
Mesmo nos barreiros, a água é pouca. Maria da Mota, agricultora, foi buscar um balde de água em um barreiro próximo à sua casa, e sentiu o efeito da seca. “Aqui o tempo está bem baixo, no outro mês, vamos ter que botar água. Daqui a uns dois meses o barreiro vai estar seco”, disse.
A estiagem afetou a colheita, e os agricultores perderam quase tudo. A paisagem verde sumiu aos poucos, e a seca se estende por quilômetros, tirando o ânimo de muitos moradores. Maria Galdino também é agricultora e diz que a família nem chegou a plantar. A filha dela, Hosana Felipe da Mota, diz que não vê chuva há meses. “Não chove desde julho, e agora, só quando chover de novo, vamos poder juntar a água da chuva. Carregamos na cabeça mesmo, ou no burro”, falou.
Quase todos os agricultores que plantaram milho perderam os cereais. No povoado de Serraria, a 10 quilômetros do município, o agricultor Luiz Antônio reclamou do tamanho da espiga. “Não serve mais para nada, esse milho. No tempo em que ele botou a fruta, e pendoou, pendoou no seco. Nós trabalhamos, lutamos, mas a chuva que deu foi pouca. Então o milho bonecou, mas não se sustentou, não vingou. Ele pequeno só serve para dar às galinhas”, explicou.
Em Caraúba Torta, povoado que fica a 18 quilômetros do centro de Carpina, mais de mil famílias sofrem com a falta de chuva. Lá, a água da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) só chega às casas a cada 15, 20 dias. Uma das moradoras mais antigas do povoado, Maria Barbosa contou que toda a comunidade tem tido muita dificuldade. “Aqui a gente gasta muita água, porque tem bezerro, pra dar água. Tem que botar três, quatro cargas de água. É um botijão cada carga, no jumento”, disse.
“A gente pega o nosso jumento, e quem não tem jumento paga. A época de chover já passou, agora é esperar Jesus mandar a chuva novamente”, comentou. Ela disse ainda que a comunidade precisa, com urgência, de coisas básicas, como um poço. “Um poço grande, pra aumentar a pouca água que tem. Para ter água para todas as casas, porque tem mais de mil famílias aqui. Aqui não passa carro-pipa, aqui o carro-pipa é o jumento”, afirmou.
De acordo com o governo do estado, não há carro-pipa contratado para atender o município de Carpina porque o serviço não foi solicitado. Segundo o coordenador da Operação Pipa, Gentil Gomes, qualquer pessoa pode solicitar esse tipo de abastecimento, nas unidades do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) de sua cidade.
Do G1 PE
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